ele dizia que eu tinha um gosto diferente, que meus seios eram belos e que fora uma surpresa despir-me a casca, peça por peça - tal fala dita a quaisquer mulheres, com a única e fiel intenção de pulsar incessantemente dentro de uma cavidade escura, quente e aconchegante. corpo-objeto, era como me sentia e não nego que era como desejava ser naquele momento. eu também o usava por inteiro, cada peça, carícias e timidez para tecer minha história nas entrelinhas de um outro alguém que não ele. minha marca ficaria ali, de alguma forma, seja qual fosse. "tão novinha e tão completa", iludia e assim fazia-me sentir cada vez mais grandeloqüente, cheia das grandezas, por menor que fosse. o rock ao fundo de toda cena, os chakras liberados, os tabus vedados e as alianças tomando outro rumo - quanta audácia! aqueles lábios extremamente carnudos e suculentos, deliciaram-me no mais puro gosto de ser devorada até as entranhas por todas as partes do corpo; de front, de lado, de costas. ainda é preciso de pelo menos mais um mês de ensaio dessa peça e não importa a quantidade de repetições de cena, o importante é alcançar a perfeição até o fim da turnê; que repita quantas vezes necessário. um mês de intensivos ensaios. eu, apenas mais uma envolvendo aquele corpo. ele, apenas mais um a explorar-me a fundo; reciprocidade nunca fora tão plena.